A Ilha (Victoria Hislop)

O Amor.
O que ele realmente significa e o que o abrange?
O amor é um dos sentimentos mais falados, percebidos porém menos compreendidos, consequentemente formando uma leve confusão em nossas mentes. É difícil descrevê-lo porque na verdade o amor difere conforme as pessoas e suas opniões. Cada uma o sente de uma forma singular.
No romance de Victória Hislop, A Ilha, ela tenta mostrar como o amor pode afetar e trazer consequências absurdamente paradoxais dependendo de cada vida pulsante, tendo como veia central quatro linhagens matriarcais: Eleni, Anna, Sofia e Alexis. A linhagem da Família Petrakis.

A história se inicia com Alexis. Adulta, noiva e com uma dúvida perturbadora: "Como saber se é realmente amor?" aquilo que sente pelo seu par, Ed. E é para por fim a essa inquietante indagação, que ela recorre a sua mãe, Sofia. Não encontra a resposta com ela. Sofia aproveita-se da viagem que sua filha fará com seu noivo para a Grécia, terra natal de toda sua família, para pedir a mesma que entregue uma carta para uma amiga sua e de sua mãe.
Na Grécia, Alexis viaja para a cidade de Plaka, onde encontra a destinatária da carta de sua mãe: Fotini. Ao lê-la, Fotini descobre que a carta é muito mais que uma simples conversa á distância, mas sim, um pedido desconcertante de Sofia: Que Fotini revele para Alexis a história da família Petrakis. Uma história que a própria Sofia fizera questão de não confidenciar para sua prole e marido por anos. Fotini realiza seu desejo.

Desta forma, somos levados ao passado, mais exatamente ao ano de 1939. Época em que a Grécia ainda se orgulhava de seu passado glorioso como berço da civilização moderna. Porém, em seu território existia uma ilha chamada Spinalonga, que era domicílio de confinamento para os infectados pelo bacilo da Lepra; doença degenerativa que amaldiçoava os que a possuiam, e por este motivo eram estigmatizados e marginalizados por toda uma sociedade ignorante e primitiva.
A todo momento, a Ilha de Spinalonga faz parte da Família Petrakis de diversas formas.

A autora descreve em pormenores aquele lugar onírico de uma forma sensorial espetacular. Conta como as estações do ano influenciam toda uma sociedade na sua maneira de se vestir, nas cores do mar e do céu e na visão do horizonte, detalha o cheiro do café nas conversas femininas corriqueiras do dia a dia. Nas situações mais comoventes, discorre sobre os efeitos da lepra tanto físicos como emocionais. A lepra, inclusive, permeia toda história de "A Ilha". E é um fator determinante no enredo para mostrar até onde vai os limites do amor e sobre a importancia de ter esperança mesmo nas situações em que a dor insurpotável e a morte parecem estar tão próximos quanto a unha, da carne.

Um leque de personagens cativantes surge ao decorrer da leitura. E também através deles somos levados a ruminar sobre o amor. Percebemos que o amor é capaz de fazer alguém ficar recluso de amar outra pessoa quando a paixão da sua vida não pode mais ser tocada ou beijada. Ao mesmo tempo ele é capaz de acender desejos impróprios, fazendo alguém amar dois "alguéns" ao mesmo tempo, levando à traição. O amor é capaz de fazer alguém esperar por outro alguém o tempo que for necessário. É capaz de motivar alguém a tomar atitudes extremas que o leva para um destino insólito, solitário e fatal. Também é capaz de fazer alguém abrir mão de sua vontade por um bem maior, e de esconder segredos que se fossem contados, seja lá de que forma, causariam estragos maiores que a abertura da própria caixa de Pandora. Todos os personagens são interessantíssimos. Mas é em Manoli Vandoulakis e Anna que a trama toma rumos inesperados e porém, previsíveis.

Hislop não responde a pergunta sobre o que é o amor, mas sutilmente conta todas as nuances dele; como quando descreve os pensamentos da personagem Maria ao pensar que encontrou o homem para passar o resto da sua vida: "Maria nunca vivera uma felicidade tão despreocupada, e começou a pensar que essa euforia fosse amor".

A leiura inicial pode parecer enfadonha mas o transcorrer é recompensador quando a autora nos leva a penetrar na vida íntima dos personagens. Desde seus pensamentos ingênuos até às ações mais severas que precisam ser tomadas independente das consequências.

Em ordem cronológica o final do livro nos remete aos dias atuais. Como podemos deixar para trás nosso passado se não temos como nos livrar dele? Como recomeçar a vida? Diante de um diagnóstico de morte certa, como reagiriamos se viver voltasse a ser uma alternativa diante da cura? Como se adpatar a uma nova vida? Como voltar para o lar de familiares que fizeram questão de esquecê-lo?
A vida dos leprosos em Spinalonga e uma reviravolta repentina na Ilha, trazida pelo personagem do Dr Kyritsis, traz esperança aos moradores do local e também novas ansiedades que jamais pensaram em ter e nos leva a fazer as perguntas acima.
Após todo o relato revelador de Fotini, Alexis consegue enfim encontrar a resposta a sua pergunta. E toma uma decisão.

No final da leitura a impressão que temos é de que as páginas foram poucas pra quantidade de consequências que as atitudes dos antepassados da Família Petrakis poderiam ter para futras gerações. Mas mesmo assim, é uma boa porém triste e incômoda viagem a um passado não tão distante de nós, onde o amor e a vida sempre continuam apesar das barreiras da morte e da doença.

Uma passagem do livro:

"As pessoas precisam de um futuro - comentou Maria com Kyritsis quando estavam sentados à mesa de sua casa na semana seguinte - Mesmo que não saibam ao certo o que esse futuro vai trazer"´


Título: A Ilha
Autora: Victória Hislop
Editora: Intríseca
365 Páginas

Um comentário :

  1. Lindo o livro. Emociona e ensina sobre a cura da lepra.
    Li também outro livro desta autora e me emocoinou igualmente: O Fio, que também se passa na Grécia. Lizette Carvalho

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